"O que pensam os politicos que casam e batizam em termos de ações corruptas e conseguem voltar ao poder mais uma vez? O que passa pelo interior dessas criaturas com relação ao povo? Não estariam eles dizendo: A massa é burra! Façamos como bem enteder com o dinheiro do povo que mesmo assim ainda tem a ousadia de mais uma vez votar em nós. São marionetes".
Ele voltou. Cinco anos após ter
renunciado à presidência do Senado para evitar a cassação em meio a uma série
de denúncias de corrupção, eis que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) volta ao
cargo, amparado pela base aliada do governo e setores da oposição de direita. O
peemedebista venceu as eleições para a presidência da casa no dia 1º de
fevereiro por 56 votos, contra 18 do senador Pedro Taques (PDT-MT).
Como se não bastasse retomar o posto em
que fugiu pela porta dos fundos em 2007, Renan Calheiros teve ainda a cara de
pau de proferir um discurso sobre ética, tão logo foi confirmada sua vitória.
"Eu queria lembrar que a ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em
si mesmo é o Brasil, é o interesse nacional. A ética é meio, não é fim, é dever
de todos nós.", disse a seus pares do alto de sua tribuna.
Dias antes da eleição, o procurador da
República, Roberto Gurgel, levou ao Supremo Tribunal Federal uma série de
denúncias contra Renan, inclusive algumas responsáveis pela renúncia do senador
em 2007 e que não deram em nada. Os crimes incluem peculato, falsidade
ideológica e falsificação de documentos. Na época, Renan Calheiros foi acusado de
pagar as contas da ex-amante, com quem tem uma filha, por meio de um lobista da
empreiteira Mendes Júnior. O escândalo desatou uma série de outras denúncias
que geraram uma crise na Casa Alta.
Mas Renan Calheiros, que sempre faz
questão de ressaltar que está no Senado há 18 anos, não é bobo. Junto com
aliados, já articulou uma blindagem para se proteger de futuros incômodos. Isso
inclui a entrega do comando do Conselho de Ética ao amigo e correligionário
João Alberto (PMDB-MA). O senador Romero Jucá (PMDB-RR), por sua vez, já avisou
que qualquer denúncia contra o colega que chegar ao Senado vai ter o fundo da
gaveta como destino.
Já na Câmara...
Se o Senado vê a volta triunfal de Renan
Calheiros, na Câmara dos Deputados a situação não é melhor, com a eleição do
deputado Henrique Alves (PMDB-RN) para a presidência nesse dia 4. Representando
as velhas oligarquias do Rio Grande do Norte, Alves coleciona 11 mandatos em 42
anos de "vida pública" e foi eleito com folga por seus colegas, com
271 votos.
O novo presidente da Câmara não fica
atrás de seu par do Senado e responde por denúncia de improbidade
administrativa, já tendo sido condenado pela Justiça do Rio Grande do Norte em
2011. Henrique Alves ainda é acusado de outro processo de improbidade e
enriquecimento ilícito. Mas o currículo do deputado ainda não terminou.
Reportagem da Folha de S. Paulo de janeiro revelou que o deputado desviou
emendas do Orçamento para empresa de um funcionário de seu próprio gabinete.
Tanto a eleição de Renan Calheiros como
a de Henrique Alves representa mais que a vitória de dois corruptos para o
comando do Congresso. Ela sela a aliança do PT com o PMDB com vistas para as
eleições de 2014 e mostra como o governo perpetua as velhas oligarquias no
Congresso Nacional em favor de seu projeto de poder, tal como se dá com nomes
não menos abonadores como os dos ex-presidentes Fernando Collor (PTB-AL) e José
Sarney (PMDB-AP).
Apesar de o então presidente do Senado,
José Sarney, ter proibido uma manifestação contra Renan e a corrupção, que
“lavaria” a fachada do Congresso no dia da eleição da presidência, Renan foi
obrigado a subir a rampa do Congresso nesse dia 4 de fevereiro ouvindo os
gritos de “ladrão”, “sem-vergonha” e “corrupto”. Incólume, Renan Calheiros era
o retrato vivo da indiferença do Senado e do Congresso ao resto da população.
PSOL se une a DEM e PSDB
Se a eleição de Renan Calheiros por si
só já demonstra o fundo do poço a que chegou o Senado, a atuação do PSOL no
processo também não deixa de ser lamentável. O senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP), inicialmente candidato à presidência para enfrentar Calheiros,
retirou seu nome da disputa na reta final para apoiar o candidato Pedro Taques
(PDT), formando uma frente com ninguém menos que o PSDB e DEM.
Segundo Randolfe, Taques teria a missão
de "resgatar" o Senado. "A minha candidatura e a do Pedro
Taques, são duas candidaturas e uma só causa", chegou a anunciar o
parlamentar do PSOL. Ou seja, a alternativa que Randolfe e o PSOL apresentam a
Renan Calheiros é... o PDT, PSDB e o DEM! Para se contrapor à corrupção e ao
fisiologismo representando pelo candidato do PMDB, Randolfe joga água no moinho
da direita, tão corrupta quanto Calheiros. Um verdadeiro desserviço à esquerda.
sintecearamirim.blogspot.com.br
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